A SERVA NERVOSA
A Senhora Mercedes Nunes, desde muito chamada à tarefa espiritual, não
se adaptara aos serviços mediúnicos. Os companheiros de Doutrina esforçavam-se
para despertar-lhe a noção de responsabilidade e os benfeitores desencarnados
rodeavam-na de apelos e incentivos. Dona Mercedes, porém, não se conformava:
-Sou extremamente nervosa – costumava dizer-, não me resigno a determinadas
situações! vejo-me incapacitada, em vista do sistema nervoso deficiente.
O marido, sumamente devotado aos serviços da caridade cristã,
rogava-lhe, com insistência: -Mercedes, por que não nos consagramos à missão da
fraternidade e da luz. Por que não nos dedicarmos à sementeira do bem?
Minha saúde não permite. Positivamente, não posso... -É assunto para
outra reencarnação...
Nas reuniões doutrinárias era amparada por advertências sublimes.
-Mercedes, minha filha,
-escrevia-lhe a mãezinha carinhosa, que desde muito, a procedera no túmulo
,-vale-te da presente oportunidade para a renovação em Jesus. A reforma
interior reclama trabalho, sacrifício e constantes demonstrações de
boa-vontade. Colabora, pois, nas edificações do bem, aproveitando o melhor
tempo.
O tempo, entretanto, encarregou-se de transformar-lhe a concepção
doentia. Quando a velhice lhes bateu a porta, Joaquim, seu marido, partiu em primeiro lugar. Sentia-se
amargurada, sem ninguém. Dirigiu-se ao velho grupo doutrinário, na ânsia de
ouvir a mãezinha, de novo. Reuniu-se apenas com a médium da casa e mais duas
irmãs. Pedia mensagens mais íntimas, em renovada orientação materna, de modo a
solver o seu problema mediúnico. Finda a sentida prece, a genitora prestimosa
tomou a palavra com saudações afáveis e doces. Dona Mercedes, em pranto, expôs
o martírio do coração atormentado. Queria reapossar-se da clarividência.
Aguardava, ansiosa, o instante de rever o esposo inolvidável e contribuir na
missão da verdade e da luz. A entidade afetuosa, em terna quietude, deixou que
a filha derramasse todo o fel que se lhe represava na alma ulcerada e
respondeu, por fim, em voz triste: -Ah! Mercedez; por mais de vinte anos,
convidei teu coração à redentora tarefa! Por que te demoraste tanto na decisão?
Agora, filha, o dia está quase findo...enferrujou-se a enxada, sem a necessária
e bendita utilização. Não quiseste nem mesmo combater as impressões nervosas,
vagas e infantis, acreditando mais na moléstia que na saúde. O tempo não podia
esperar por ti agora, é necessário que esperes pelo tempo!... -Deus meu! –
exclamou a viúva, amargurada – será mesmo impossível? E ante as lágrimas
convulsas, respondeu a mãezinha, angustiadamente: -Sim, minha filha, não te
posso enganar com o falso conforto, agora, é assunto para outra reencarnação.
XAVIER, Francisco Cândido; Irmão X. Pontos e Contos. 13.ed.
Brasília. FEB, 2014
BELARMINO BICAS
Depois da festa beneficente,
em que servíramos juntos, Belarmino Bicas, prezado companheiro a que nos
afeiçoamos, no Plano Espiritual, chamou-me à parte e falou, decidido:
– Bem, já que estivemos
hoje em tarefa de solidariedade, estimaria solicitar um favor…
Ante a surpresa que nos
assaltou, Belarmino prosseguiu:
– Soube que você ainda
dispõe de alguma facilidade para escrever aos companheiros encarnados na Terra
e gostaria de confiar-lhe um assunto…
– Que assunto?
– Acontece que
desencarnei com cinqüenta e oito anos de idade, após vinte de convicção
espírita. Abracei os princípios codificados por Allan Kardec, aos trinta
e oito, e como sempre fora irascível por temperamento, organizei, desde os meus
primeiros contatos com a Doutrina Consoladora, uma relação diária de todas as
minhas exasperações, apontando-lhes as causas para estudos posteriores… Os meus
desconchavos, porém, foram tantos que, apesar dos nobres conhecimentos
assimilados, suprimi, inconscientemente, vinte e dois anos da quota de oitenta
que me cabia desfrutar no corpo físico, regressando à Pátria Espiritual na
condição de suicida indireto… Somente aqui, pude examinar os meus problemas e
acomodar-me às desilusões… Quantos tesouros perdidos por bagatelas! Quanta
asneira em nome do sentimento!…
E, exibindo curioso
papel, Belarmino acrescentava:
– Conte o meu caso para
quem esteja ainda carregando a bagagem do azedume! Fale do perigo das zangas
sistemáticas, insista na necessidade da tolerância, da paciência, da
serenidade, do perdão! Rogue aos nossos companheiros para que não percam
a riqueza das horas com suscetibilidades e amuos, explique ao pessoal na Terra
que mau-humor também mata!…
Foi então que passei à
leitura da interessante estatística de irritações, que não me furto à
satisfação de transcrever: Belarmino Bicas – número de cóleras e mágoas
desnecessárias com a especificação das causas respectivas, de 1936 a 1956:
1811 em razão de
contrariedades em família;
906 por indispor-se,
dentro de casa, em questões de alimentação e higiene;
1614 por altercações
com a esposa, em divergências na conduta doméstica e social;
1801 por motivo de
desgostos com os filhos, genros e noras;
11 por
descontentamentos com os netos;
1015 por entrar em
choque com chefes de serviço;
1333 por
incompatibilidade no trato com os colegas;
1012 em virtude de
reclamações a fornecedores e lojistas em casos de pouca monta;
614 por mal-entendidos
com vizinhos;
315 por ressentimentos
com amigos íntimos;
1089 por melindres ante
o descaso de funcionários e empregados de instituições diversas;
615 por aborrecimentos
com barbeiros e alfaiates;
777 por desacordos com
motoristas e passageiros desconhecidos, em viagem de ônibus, automóveis
particulares, bondes e lotações;
419 por desavenças com
leiteiros e padeiros;
820 por malquistar-se
com garçons em restaurantes e cafés;
211 por ofender-se com
dificuldades em serviços de telefones;
90 por motivo de
controvérsias em casas de diversões;
815 por abespinhar-se
com opiniões alheias em matéria religiosa;
217 por incompreensões
com irmãos de fé, no templo espírita;
901 por engano ou
inquietação, diante de pesares imaginários ou da perspectiva de acontecimentos
desagradáveis que nunca sucederam.
Total: 16.386
exasperações inúteis.
Esse o apanhado das
irritações do prestimoso amigo Bicas: 16.386 dissabores dispensáveis em 7.300
dias de existência, e, isso, nos quatro lustros mais belos de sua passagem no
mundo, porque iluminados pelos clarões do Evangelho Redivivo. Cumpro-lhe o
desejo de tornar conhecida a sua experiência que, a nosso ver, é tão importante
quanto as observações que previnem desequilíbrios e enfermidades, embora
estejamos certos de que muita gente julgará o balanço de Belarmino por mera
invencionice de Espírito loroteiro.
XAVIER, Francisco Cândido, Irmão X. Cartas e Crônicas. Ed. FEB,1984
KARDEC E O CALCANHAR DE
AQUILES
“Todos nós possuímos
vulnerabilidades”
“ A vida material deixa um vazio na alma”.
“Religião como refúgio,
ponto de apoio ou consolação insubstituível”.
“Como atingir uma vida
melhor com os vícios da sociedade e o egoísmo?”
“É necessário trazermos
o pensamento espírita em sua base kardequiana para fortalecermos nossa união”.
A imperfeição humana é fonte geradora de muitos conflitos”.
ALMEIDA , Jerri Roberto . A Convivência na Casa Espirita. Ed. Francisco Spinelli. 2015. p.15
NOSSOS TEMPERAMENTOS
“A diversidade dos temperamentos se explica pelos
qualificativos e incompletudes do espirito em evolução”.
“O temperamento flui de dentro para fora. Representa traços
da natureza e da própria essência, peculiar a cada ser humano, agregando-se dos
demais componentes formativos da personalidade.”
“O temperamento forte, associado ou não, aos complexos que
trazemos dessas e/ou das vivencias passadas, quando não administrado
adequadamente, termina por impor barreiras psicológicas e crises complexas, nos
terrenos das relações.”
“Conhecimento espirita: pensar sobre questões não
resolvidas pelo espirito diante das leis da vida”.
“Centro Espírita:
oficina de sentimentos. Os ensinos ali ofertados, tem alto valor psicológico.”
Os complexos influem de forma
determinante na formação do temperamento e da personalidade do espirito
reencarnado.”
ALMEIDA Jerri Roberto . A Convivência na Casa Espirita. Editora:Francisco Spinelli. 2015. p.25